[NOTÍCIAS DA IGREJA]
Com a chegada de Pentecostes, queremos considerar hoje alguns dos símbolos bíblicos do Espírito Santo e, com isso, aprender o que Ele realiza em nós. As seguintes descrições não o reduzem, sem mais, a fogo, água ou línguas. Pelo contrário, o Espírito Santo é descrito na Bíblia como se fosse essas coisas e, ao mesmo tempo, como algo maior do que elas.
1. Vento. — As Escrituras dizem: “Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados” (At 2, 1s).
Note-se que o texto fala do Espírito Santo “como se soprasse um vento impetuoso”, mas não diz que o Espírito Santo seja um vento impetuoso, já que Ele não pode ser reduzido a objetos físicos, ainda que se possa atribuir-lhe alguma semelhança com eles.
Esse texto nos leva à raiz mesma da palavra “espírito”. O espírito alude ao ato de inspirar ou respirar, como se vê pela etimologia da palavra “respiração”. Por isso, o Espírito de Deus é o sopro ou hálito de Deus, a Ruah Adonai:
O próprio Espírito de Deus foi infundido em Adão! Como sabemos, porém, Adão perdeu esse dom e morreu espiritualmente quando pecou. Em consequência, também nós perdemos o Espírito de Deus e morremos espiritualmente. São Paulo diz sem meias palavras que todos estávamos mortos por nossos pecados (cf. Col 2, 13).
Vemos nesse trecho de Atos uma ressurreição maravilhosa da pessoa humana, pois os primeiros cristãos experimentaram o vento impetuoso do Espírito de Deus infundir-lhes novamente a vida espiritual. É como uma “reanimação respiratória”: Deus traz de volta à vida a humanidade morta pelo pecado. O Espírito Santo vem habitar em nós outra vez como em seu templo (cf. 1Cor 3, 16).
Essa imagem do vento impetuoso é um lembrete de que o Espírito Santo nos devolve e sustenta a vida. Se o Natal é a festa de Deus conosco e a Sexta-feira, a de Deus para nós, Pentecostes é a festa de Deus em nós. O Espírito Santo é, pois, como um vento impetuoso, que nos inspira outra vez a vida divina.
2. Fogo. — As Escrituras continuam: “Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo, que se repartiram e pousaram sobre cada um deles” (At 2, 3).
A Bíblia costuma falar de Deus como um fogo ou em termos parecidos:
Portanto, o nosso Deus, que é um fogo sagrado, vem habitar em nós por meio do seu Espírito Santo. Como fogo santo, Ele nos acrisola ao queimar nossos pecados e purificar-nos. Como disse Jó: “Ele conhece o meu caminho; se me põe à prova, dela sairei puro como o ouro” (Jó 23, 10).
O fogo transforma tudo o que encontra. Nada passa incólume por ele: pode ser consumido, convertido, purificado, aquecido, derretido ou endurecido; nada, porém, passa incólume pelo fogo.
Por isso, Deus Espírito Santo está em nós como um fogo sagrado, mudando-nos e transformando-nos, queimando os nossos pecados, purificando-nos e iluminando-nos, ateando em nós a chama do amor divino e, desta forma, elevando-nos à temperatura da glória de Deus. Ele é como um fogo que dá luz e calor em nossos momentos mais frios e sombrios. Pouco a pouco, vamos nos tornando uma fornalha ardente de caridade, capaz de transmitir calor aos que estão ao nosso redor.
Como fogo, Deus também nos está preparando para o Juízo. Se Ele, afinal, é fogo sagrado, quem poderá subsistir quando chegar o seu dia? Quem pode suportar a presença do próprio Fogo em si? Somente o que também é fogo. É por isso que nos devemos abrasar de amor divino.
Em outras palavras, com o envio do Espírito Santo, Deus nos ateia fogo para nos converter em fogo. Com isso, Ele nos purifica e prepara para nos encontrarmos consigo um dia, para conhecermos Aquele que é fogo sagrado.
3. Línguas. — Ele também é descrito como línguas de fogo, o que nos ensina que um dos principais frutos do Espírito é ajudar-nos a dar testemunho às outras outras. Mas o que significa testemunhar? É falar do que se viu, ouviu e experimentou.
A respeito da necessidade de dar testemunho, disse Nosso Senhor:
O Espírito vem em forma de línguas a fim de nos fortalecer para a nossa missão, para o nosso testemunho. E como é necessário esse testemunho nos dias de hoje! O mal tem triunfado porque os bons se mantêm em silêncio; os púlpitos estão mudos; os pais foram calados. As línguas de fogo nos recordam que Deus quer santos fortes e animados, que têm coragem de dar testemunho em um mundo cético, mentiroso e zombeteiro.
Muitos mártires morreram valorosamente no decorrer da história, e no entanto muitos hoje têm medo só de pensar que alguém os olhará torto… Peçamos línguas corajosas e coragem para usar a língua!
4. Água. — É uma imagem que Jesus utiliza com frequência para falar do Espírito Santo. No último dia da grande festa dos Tabernáculos, Jesus se pôs de pé e disse em alto e bom som: “‘Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva’. Dizia isso, referindo-se ao Espírito que haviam de receber os que cressem nele, pois ainda não fora dado o Espírito, visto que Jesus ainda não tinha sido glorificado” (Jo 7, 37ss).
No Evangelho segundo S. João, o dom do Espírito Santo é descrito em termos bastante vivos, no momento da crucificação:
“Havendo Jesus tomado do vinagre, disse: ‘Tudo está consumado’. Inclinou a cabeça e entregou o espírito. Os judeus temeram que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque já era a Preparação e esse sábado era particularmente solene. Rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Vieram os soldados e quebraram as pernas do primeiro e do outro, que com ele foram crucificados. Chegando, porém, a Jesus, como o vissem já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água. O que foi testemunha desse fato o atesta (e o seu testemunho é digno de fé, e ele sabe que diz a verdade), a fim de que vós creiais” (Jo 18, 30-35).
Nessa água que jorra do peito de Cristo, o Espírito Santo aparece como numa espécie de “Pentecostes joanino”. De fato, é um jogo de palavras característico de S. João o uso de “entregar o espírito”, que pode significar tanto que Jesus morreu como que nos deu o seu Espírito Santo.
Os Padres da Igreja também veem na água um símbolo adequado do Espírito:
A água, por conseguinte, é outro símbolo fundamental do Espírito Santo, na medida em que todas as coisas dependem da água para manter-se vivas e fazer uso de suas próprias capacidades. Não tenho como falar com maior profundidade que a desses dois santos e Padres. Bastem-nos as palavras deles.
5. Pomba. — Sabemos que o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma de pomba. As Escrituras dizem: “O Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como uma pomba; e veio do céu uma voz: ‘Tu és o meu Filho bem-amado; em ti ponho minha afeição’” (Lc 3, 22).
Note-se, mais uma vez, o uso de um símile e analogia. O Espírito Santo não é um pássaro nem em um corpo de qualquer tipo; Ele é visto em forma corpórea como se fosse uma pomba. O Espírito Santo é Deus, é a Terceira Pessoa da SS. Trindade, e não um objeto físico.
A imagem do Espírito Santo como uma pomba faz alusão à história de Noé.
“No fim de quarenta dias, abriu Noé a janela que tinha feito na arca e deixou sair um corvo, o qual, saindo, voava de um lado para outro, até que aparecesse a terra seca. Soltou também uma pomba, para ver se as águas teriam já diminuído na face da terra. A pomba, porém, não encontrando onde pousar, voltou para junto dele na arca, porque havia ainda água na face da terra. Noé estendeu a mão, e tendo-a tomado, recolheu-a na arca. Esperou mais sete dias, e soltou de novo a pomba fora da arca. E eis que pela tarde ela voltou, trazendo no bico uma folha verde de oliveira. Assim Noé compreendeu que as águas tinham baixado sobre a terra” (Gn 8, 6-11).
A pomba foi para Noé um anúncio de que a destruição e a morte causadas pelo pecado tinham finalmente chegado ao fim. Ela trouxe a ele um sinal de paz e de que fora cumprida a promessa de Deus de purificar a terra. Noé, tendo sobrevivido ao dilúvio na segurança da arca de Deus, poderia andar em um mundo novo.
Assim também acontece conosco. O Espírito é paz: shalom. O longo reinado do pecado acabou, e a graça está agora ao alcance de todos. Nós, tendo passado pelas águas do Batismo, podemos viver uma vida nova. O Espírito Santo desce sobre nós como uma pomba, trazendo paz, esperança e todos os dons da graça.
Aqui temos cinco símbolos que nos podem ajudar a refletir sobre a ação do Espírito Santo em nós. Com certeza, há outros símbolos e maneiras de descrever a obra do Espírito Santo, mas estes cinco nos falam bem ao coração.
Fonte: https://padrepauloricardo.org/blog/os-cinco-simbolos-do-espirito-santo