[NOTÍCIAS DA IGREJA]
Este gesto de Jesus remete para «o conceito de familiaridade com Deus, de familiaridade com Jesus». De facto, disse Francisco, «podemos ser discípulos, podemos ser amigos mas ser familiar é mais ainda». Há um salto de qualidade se considerarmos o «primeiro mandamento que recebemos na pessoa do nosso pai Abraão», ou seja: «Caminha na minha presença e sê irrepreensível». Hoje aquele mandamento «cresceu e ficou maior, mais amplo: “Ouve a palavra de Deus. Observa-a, assim serás a minha família, terás familiaridade comigo”».
A partir disto, sugeriu o Pontífice, cada um pode avaliar a própria relação com Jesus e questionar-se: «É um comportamento formal, educado? Vou rezar, depois volto para os meus afazeres, esqueço-me de Jesus e faço as minhas coisas, volto a rezar». Ou seja, é uma «atitude diplomática»? Ou «familiar», na qual se sente «familiaridade com o Senhor»?
Para responder é preciso compreender «o que significa esta palavra que os padres espirituais na Igreja usaram muito e nos ensinaram: a familiaridade com Deus». A este propósito, o Papa ofereceu algumas indicações. Antes de mais, significa «entrar na casa de Jesus: entrar na atmosfera, viver a atmosfera, que existe na casa de Jesus. Viver ali, contemplar, ser livre, ali». De facto, quantos «habitam a casa do Senhor», dado que são «filhos» e «têm familiaridade com ele», são também «livres». Há uma diferença substancial com quem não tem esta familiaridade: Francisco evocou uma expressão bíblica, isto é, «os filhos da escrava» e aplicou-a a quantos «são cristãos mas não ousam aproximar-se, não ousam ter esta familiaridade com o Senhor, e há sempre uma distância que os separa do Senhor».
Depois, o segundo aspeto a considerar, «familiaridade com Jesus significa estar com ele, olhar para ele, ouvir a sua palavra, procurar praticá-la, falar com ele». Um diálogo simples, explicou o Pontífice, no qual se fala com o Senhor sobre as próprias situações, com «a oração que se faz também caminho: “Mas, Senhor o que pensas?”». De resto, trata-se da familiaridade que tinham os santos. O Papa recordou, por exemplo, Santa Teresa «que encontrava o Senhor em toda a parte, era familiar com o Senhor em todos os lugares, até entre as panelas na cozinha».
Mas além do «estar com o Senhor», acrescentou Francisco, é importante «permanecer no Senhor», como ele mesmo aconselhou «no discurso da última ceia». O pensamento, disse o Pontífice, vai «ao início do Evangelho, quando João indica: “Este é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. E André e João seguiram Jesus: “Mestre, onde estás?” – “Vinde ver”».
Os dois discípulos seguiram-no e, diz o Evangelho com uma «frase lindíssima: “Permaneceram, ficaram com ele o dia inteiro, a noite inteira”».
Portanto, concluiu o Papa, é necessário proceder «neste comportamento de familiaridade com o Senhor» e não permanecer cristãos que se satisfazem em ter um «comportamento bom com o Senhor mas tu lá e eu cá». O convite do Senhor é claro e mais abrangente: «Somos família, sois a minha família se ouvirdes a minha palavra e a praticardes». É preciso adotar o estilo de quem, com os seus problemas, durante o dia, «quer esteja no autocarro ou no metropolitano, interiormente fala com o Senhor, ou pelo menos sabe que o Senhor olha para ele, está próximo dele: esta é a familiaridade, é proximidade, é sentir-se parte da família de Jesus».
Fonte: http://www.news.va/pt/news/missa-em-santa-marta-como-uma-familia